Três produções cinematográficas de Mato Grosso foram selecionadas para VIII Mostra Sesc de Cinema. Foram mais de 2.100 filmes recebidos, um crescimento de 40% em relação à edição anterior. Destes, 19 filmes foram escolhidos para o Panorama Brasil, que circulará por unidades do Sesc em todo o país ao longo de 12 meses. Entre eles está “Outro Lugar”, curta-metragem de autoria e dirigido por Perseu Azul.
Já os documentários “Afetos – A Tela Mágica”, de Aliana Camargo, e “Mopái Pjuta Ãkakje’y – A Roça e os Alimentos Myky”, de Jade Rainho e Kantinuwy Myky, Kojayru Myky, Mãnynu Myky, Njãkyru Myky, Takarauku Myky e Tipuu Myky, integram o Panorama Mato Grosso, com exibições em unidades do Sesc no estado. A Mostra Sesc de Cinema bateu recorde de inscrições totais em 2025. Em Mato Grosso, 20 filmes foram inscritos.
O documentário “Mopái Pjuta Ãkakje’y – A Roça e os Alimentos Myky” foi premiado como Destaque Estadual, e será licenciado, junto com outras 18 obras cinematográficas de outros estados. Todas as obras foram avaliadas por comissões estaduais formadas por especialistas convidados e profissionais do Sesc.
A Mostra Sesc de Cinema é considerada como um importante janela para o cinema brasileiro, democratizando o acesso às produções de todas as regiões e fomentando novos olhares e narrativas diversas. O Sesc faz parte da Fecomércio-MT, que é filiada à Confederação Nacional do Comércio (CNC), presidida por José Roberto Tadros.
Imaginário sem fronteiras em “Outro Lugar”
Com “Outro Lugar”, Perseu Azul quis ultrapassar barreiras geográficas, levando as paisagens da Chapada dos Guimarães a públicos infantojuvenis do Brasil inteiro. A ideia surgiu da vontade de transformar registros históricos de fósseis de dinossauros em Chapada em uma história repleta de fantasia, misturando ciência e imaginação.
“O filme nasceu de uma vontade minha de me comunicar com o público infantojuvenil e de levar para esse público uma história da Chapada dos Guimarães, universalizar essa história regional, confundindo as fronteiras entre ficção e ciência”, contou Perseu.
O curta traz animações, elementos tecnológicos e desafios narrativos que, segundo Perseu, elevaram seu trabalho como roteirista, diretor e produtor. Além disso, a força do elenco local, como a protagonista Morena Flor, uma jovem atriz da própria Chapada, reforça o elo entre comunidade e tela. Perseu faz questão de destacar a importância de exibir histórias que mostram “personagens que representam tanto o nosso lugar, nosso regionalismo”.
Para ele, mesmo o filme já tendo circulado bastante em outros festivais de cinema, a participação na Mostra Sesc de Cinema é a coroação do sucesso de distribuição e circulação da obra. “A gente sabe do alcance do Sesc nos jovens e nos grupos infantojuvenis, e o quanto o Sesc consegue levar esse público para a sala de cinema, por suas parcerias com as escolas públicas e com o movimento dos comerciários. Então, é muito legal estar na mostra no Panorama Brasil. Isso é realmente um motivo de muito orgulho para a gente”, enfatiza.
Perseu ressalta a importância de mostras como a do Sesc, pois a concretização do cinema nacional, e um espaço para mostrar a cara e a força de quem produz cinema para vários públicos, com muita qualidade, e vindo de todo Brasil. “Eu gosto de emprestar um termo que é de um outro realizador de Mato Grosso, Amaury Tangará, que é ‘a gente faz cinema brasileiro, não mato-grossense. O nosso cinema é brasileiro, e ser brasileiro é isso, é ter vários rostos, é ter várias formas de falar, várias comidas, várias paisagens e principalmente várias histórias para contar”, completa.
Reflexões sobre infância e telas em “Afetos – A Tela Mágica”
Resultado de uma pesquisa de doutorado sobre a relação de crianças com a mídia digital, o documentário “Afetos – A Tela Mágica”, de Aliana Camargo, propõe ao público refletir sobre como as telas moldam emoções, comportamentos e percepções do mundo.
“O ‘Afetos’ não é um documentário que fala mal das tecnologias. É um documentário que fala sobre o que constituí a cultura digital, sem dialogar se é boa ou mal, apenas que ela é. É o olhar para essas crianças, para essa relação das crianças com a mídia digital”, explica.
Para Aliana, ter o filme exibido na Mostra é um reconhecimento de anos de dedicação e ressalta a importância de iniciativas como a Mostra Sesc de Cinema para valorizar as produções de dentro do Brasil. “Para mim é uma super janela de exibição. Conheço o sistema de cinema do Sesc, já participei de alguns projetos e de exibições em Cuiabá, e é uma honra e um privilégio ter essa oportunidade de apresentar um trabalho de uma pesquisa de anos. Com certeza, essa mostra fortalece demais o cinema e as produções locais.”, enfatiza.
Saberes ancestrais em “Mopái Pjuta Ãkakje’y – A Roça e os Alimentos Myky”
Produzido em parceria com mulheres cineastas do povo Myky, o documentário “Mopái Pjuta Ãkakje’y – A Roça e os Alimentos Myky” é uma celebração do vínculo entre comunidade, terra e alimento. Para uma das diretoras, Kantinuwy Myky, é um grande prazer que o filme tenha sido escolhido para a Mostra Sesc de Cinema, e possa ser mostrado em todo o estado.
“Por mais que este filme já tenha circulado em alguns festivais, vai ser muito bom ser exibido aqui em Mato Grosso, para os não indígenas conhecerem a nossa cultura e que nós, indígenas, produzimos alimentos orgânicos. Nós diretoras ficamos muito felizes por termos feito essa filmagem sobre a nossa história e da nossa cultura, porque o audiovisual é uma forma de garantir a continuidade, a preservação do conhecimento ancestral para as futuras gerações”, enfatiza.
Além de Kantinuwy, compartilharam da direção e roteiro do documentário as cineastas Kojayru Myky, Mãnynu Myky, Njãkyru Myky, Takarauku Myky e Tipuu Myky.
O filme é resultado de um projeto de formação em cinema e audiovisual para mulheres indígenas realizado pela cineasta Jade Rainho. Para ela, a seleção na Mostra Sesc fortalece o coletivo de mulheres que, com câmeras na mão, contam suas próprias histórias.
“Recebemos com muita alegria a notícia do filme ter entrada no Panorama Mato Grosso, na Mostra Sesc de Cinema, que é uma mostra tão consolidada, tão respeitada. Isso para a gente representa a prosperidade, o sucesso do trabalho, a consolidação do que a gente vem construindo”, ressalta.
O impacto do filme se estende além das telas. Em exibições dentro da própria comunidade, as mulheres se veem na tela, se reconhecem e reafirmam sua cultura.
“Eu percebo que o filme está gerando um impacto positivo para a comunidade Myky, e para o público em geral. Está promovendo maior visibilidade da compreensão da nossa cultura indígena. Ter um recorte específico para as produções de Mato Grosso, dentro de uma mostra nacional, é muito importante, porque permite que o Brasil conheça a diversidade cultural e as realidades dos povos originários, como o povo Myky. Isso fortalece o cinema local e também valoriza nossas histórias, contadas por nós mesmos, com nossa própria visão e sabedoria”, finaliza Kantinuwy.
Sobre o Sesc
O Serviço Social do Comércio (Sesc-MT) é uma entidade privada, financiada com as contribuições do empresariado, sem ônus para os empregados, ou a utilização de recursos públicos. Desde 1947, promove ações de saúde, lazer, educação, cultura e assistência, com o objetivo de fornecer o bem-estar social e a qualidade de vida dos trabalhadores do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, de seus familiares e da comunidade em geral no estado de Mato Grosso.
Atualmente, o Sesc-MT administra 24 unidades fixas no estado e cinco unidades móveis que circulam pelos municípios do interior.
O Sistema S do Comércio é presidido pelo empresário José Wenceslau de Souza Júnior. A entidade é filiada à Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que está sob o comando de José Roberto Tadros.
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