Muito tem se debatido na atualidade sobre o etarismo, idadismo ou ageísmo. As idosas e idosos correspondem a aproximadamente 15% da população brasileira. Ultimamente fala-se em “tempo bom” ou “melhor idade”, para se referir ao segmento.
A atual expectativa de vida tem mostrado aumento da longevidade, nos últimos tempos. Mas, envelhecer ainda é grande desafio para muitos e muitas.
Dias atrás, em aula de doutorado, o professor dividiu a turma em duplas, com o seguinte questionamento para reflexão e compartilhamento posterior: “Quais as opressões interligadas atravessam os seus corpos?
As duplas, então, trouxeram e externaram as muitas opressões sentidas e sofridas no cotidiano pelos respectivos corpos. Todavia, chamou a atenção, principalmente a minha, a resposta de uma dupla composta por duas mulheres acima de 45 anos.
Elas externaram a opressão ao terem que aparentar estarem muito bem fisicamente. Leia-se: mais jovens. O mundo segue escravizado pela ditadura da beleza, massacrando mulheres.
A mídia exteriorizou no início do ano uma mulher de aproximadamente 40 anos que ingressou na faculdade de biomedicina, no interior de São Paulo, e que sofreu preconceito pela idade de ingresso na instituição de ensino.
Há um vídeo mostrando a reação de três estudantes em conversa. “Gente, quis do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?”. “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada.” Finaliza uma terceira: “Realmente”.
Na verdade, os estereótipos dizem muito sobre vida, roupa, estilo, e preocupações das pessoas, como se houvesse a obrigação em como se portar a partir de determinada idade. Assim, para parcela da população, aquelas e aqueles que “destoam” não estão a ocupar o lugar que deveria ser ‘delas e deles’.
Inclusive, a tecnologia também tem sido motivo de preconceito, com falas a ditar que a idade engessa desses conhecimentos.
Aos homens a idade passa e chega com maior tranquilidade, já que muitos acabam por “ganhar” mais experiência, como usualmente é dito. Todavia, para as mulheres a chegada de idade, por vezes, oferta marcas preconceituosas. Algumas sentenças cruéis, disfarçadas como “elogio” são ouvidas por elas.
“Você está ótima para a idade que tem. Nem parece!”. Logo em seguida, as roupas e a forma de se portar, também acabam sendo motivo de questionamento, já que os corpos delas, ao que parece, sempre devem ser discutidos, e, muitas vezes, com decisão alheia.
Coros de entoação eclodem: “Não sabe envelhecer”. Essa é uma típica frase etarista que seguidamente oferta novos comentários. Cabelos que não podem ser longos, e por aí afora, fazem parte do cabedal de estigmas jogados contra elas, que com toda experiência e sabedoria, carregam as marcas corporais das doces rugas e cabelos brancos a ditar as muitas vivências por elas experimentadas.
É mais ou menos como se mulheres guardassem consigo a “data de validade”. Aliás, elas enfrentam esses prazos ao longo da vida: tempo de casar, ter filhos e filhas, de serem avós...
O tempo de estudo, de preparo para seguir determinada carreira, de mostrar a competência em ocuparem cargos de direcionamento ou chefia, mandato eletivo, e outros lugares primordialmente ocupados por eles, não são motivo de questionamento para elas. O tempo de conhecer as mulheres e saber o que as faz feliz, em se sentirem plenas e realizadas, e não necessariamente mais jovens, tem sido motivo de reflexão em prol delas?
Juventude não pode ser sinônimo de bem estar. As etapas, todas elas, merecem passagens e sinais serenos. A longevidade de uma vida bem vivida é muito positiva, sem dúvida. O presente deve ser vivenciado com muita liberdade...
Maria Clara Machado, refletindo sobre o tema lançou: “Aprendi que amadurecer dói, mas o fruto pode ser bom.” E sempre é!
*Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.
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