Por entre os muros antes pálidos do campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) agora brotam cores que 'falam', murais que 'respiram' e arte que acolhe. Pela primeira vez, Cuiabá abrigou o Festival Calor e Cor, um encontro de grafite e muralismo que tingiu a cidade, não somente a universidade, com vozes do Brasil e do mundo.
Realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, através do Governo de Mato Grosso e da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), o festival teve como centro a UFMT, que se transformou em uma grande tela viva. O evento também alcançou bairros periféricos da capital mato-grossense, como Pedra 90, além de espaços como o Casarão das Artes, o MT Queer e ruas do bairro Tijucal.
A ideia nasceu do artista Rogério Mendes, que percebeu um vazio: “Fizemos uma análise sobre o acesso à cultura em Cuiabá e notamos que a maioria dos espaços está concentrada no Centro, distantes da rotina dos trabalhadores e das comunidades periféricas. Queríamos levar arte para onde as pessoas estão — por isso o grafite, por isso o muralismo. É arte pública, democrática, acessível”.
A UFMT abraçou o projeto como parceira fundamental. A Pró-reitoria de Cultura e Extensão garantiu estrutura para os artistas — hospedagem, alimentação e suporte técnico. Em contrapartida, a universidade foi tomada por cores, ideias e mensagens. Murais gigantes surgiram nos blocos de Zootecnia, Comunicação e Artes (IL/FCA), Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia (FAET), Direito e, ainda, nos blocos didáticos de Várzea Grande, IGHD e ICHS.
Mas o Festival Calor e Cor não parou por aí. “Ele se espalhou por toda a cidade. Em creches, casas, avenidas. Foi uma forma de inserir Cuiabá no mapa dos grandes festivais de arte urbana do país e da América Latina”, destaca Rogério, que já participou de diversos eventos semelhantes em outras regiões do Brasil.
A curadoria selecionou artistas de todas as partes: São Paulo, Rio, Fortaleza, Natal, Paraíba, Goiânia — e também nomes internacionais vindos da Bolívia, México e Estados Unidos. Uma atenção especial foi dada à representatividade feminina. “A maioria das artistas selecionadas são mulheres. E entregaram obras potentes, carregadas de sensibilidade e força”, acrescenta Rogério.
Entre os que participaram ativamente do festival está Leandra Martins, estudante de Cinema e Audiovisual da UFMT. Seu envolvimento começou com uma oficina e se transformou em experiência de produção: “Nunca tinha feito parte de um festival. Foi puxado, mas incrível. Ver meu bloco na universidade ganhando cor e voz através da arte... é algo que sempre desejei. A universidade estava apagada, e agora respira”.
Leandra acompanhou de perto a ocupação artística do campus. Os pilares da Faculdade de Comunicação, onde dormiram alguns artistas, foram os primeiros a ganhar vida. "É emocionante. A arte chegou e reivindicou um espaço que há muito tempo pedia atenção".
Também veio de fora para deixar sua marca o artista Fernando, de Goiás. Ele pintou no campus da Faculdade de Direito e ficou surpreso com a recepção calorosa. “Fiquei muito feliz de estar pintando em uma universidade. Inclusive no campus de Direito, que às vezes a gente imagina como um lugar mais formal, né? Mas todo mundo amou as pinturas, o feedback foi super positivo. Tá sendo uma experiência incrível, não consigo nem descrever. Sempre foi meu sonho pintar um mural em grande formato, o que a gente chama de empena. E rolou de forma muito natural — fui colando, grafitei no Tijucal, no CA da Comunicação... tive até a honra de pintar a Glória Maria lá, ficou bem legal,” ressalta.
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