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DIRETAS JÁ!

Derrota da emenda Dante de Oliveira completa 40 anos

Da redação

"Está em nossas mãos a própria sobrevivência desta instituição enquanto Poder, respeitada pela opinião pública enquanto Poder, que tem como tarefa histórica a consolidação da democracia brasileira. Está em nossas mãos, Sr. Presidente, Srs. Congressistas, a soberania nacional, hoje violentada, conspurcada, pisoteada, negociada, humilhada, o que revolta todos aqueles que amam nossa pátria, que amam nosso povo. Está em nossas mãos o futuro grandioso do Brasil, do Brasil-vida, do Brasil-educação, do Brasil-saúde, do Brasil-amor, do Brasil fraterno, do Brasil justo, do Brasil livre, do Brasil democrata e do Brasil soberano. Hoje é o dia da vitória do povo, é o dia da vitória da pátria, é o dia da vitória deste Congresso Nacional. Felicidades a todos os congressistas!", terminava assim há exatamente 40 anos o discurso do então deputado federal Dante de Oliveira antes da votação que derrotou a emenda das Diretas Já!, de sua autoria.

Apesar da esperança, faltaram 22 votos para que a emenda passasse para que o povo brasileiro pudesse escolher o seu presidente por voto direto nas eleições de 1985. Contudo, naquele 25 de abril de 1984, mesmo com a derrota, Dante cravou na história o codinome de 'Homem das Diretas' no país e pavimentou os alicerces para suas eleições como prefeito de Cuiabá (1985 e 1992) e governador do Estado (1994 e 1998).

Com a derrota amarga ainda na garganta e nos olhos, o jovem deputado ouviu elogios do então deputado Ulysses Guimarães, que o parabenizou pela sua incansável campanha de um ano inteiro pela Diretas Já!. "Você é movido por ideias libertárias", disse Guimarães que 4 anos antes havia se tornado seu padrinho de casamento.

O 'mosquito elétrico', apelido dado por Ulysses por conta da peregrinação que Dante fez desde o seu primeiro dia como parlamentar, quando percorria os corredores e mesas do restaurante do Congresso para conseguir as assinaturas para a emenda.

"Eu apresentei esse projeto de lei aqui na Câmara dos Deputados em 2 de março de 1983. Isso foi consequência de toda a minha campanha para deputado federal em Mato Grosso em 1982. Quando eu percebia que em todos os comícios e reuniões que fazia naquela campanha, quando falava das questões das diretas, do povo recuperar o voto para presidente, a resposta da população era sempre mais forte, maior. Aquilo foi me marcando, dia a dia. Quando me elegi federal, falei: vou apresentar a emenda das diretas para restabelecer esse direito do povo", contou Dante anos mais tarde.

O documento acabou sendo assinado por Dante de Oliveira e mais 176 deputados e 23 senadores e apresentado no dia 2 de março de 1983.

Durante o período de campanha pelas ruas do país, Dante deixou de ser apenas um membro do que hoje chamamos de 'baixo clero' - parlamentares que não tem nenhuma influência no Congresso - para se tornar um dos mais importantes políticos do Brasil.

Entre as dezenas de comícios que entraram para a história, um ficou marcado na memória de Ulysses Guimarães: O comício da Praça da República em Cuiabá, o primeiro no Estado.

Segundo contou a esposa de Ulysses, dona Mora Guimarães, o homem que proclamou a Constituição Federal em 1988 considerou o ato em Cuiabá como um espetáculo, e não pela quantidade de público, mas pelos discursos de Doutel de Andrade, que representava Leonel Brizola, de Lula, do próprio Dante e, principalmente, de Mário Juruna, que resolveu falar na língua de seu povo, a nação Xavante.

"A voz firme e forte do índio ecoou pela Praça da República, no centro de Cuiabá. Lembrou-se, Ulysses, do silêncio respeitoso que acompanhou todo o pronunciamento de Juruna e do aplauso final, uma apoteose que uniu as raças ali representadas, ao único som do Hino Nacional - a voz de Tetê Espíndola", diz trecho da reportagem do saudoso jornalista Jorge Moreno Bastos, que contou tal história no jornal O Globo.

Aquela sessão de 25 de abril de 1984, terminou com 298 votos favoráveis à emenda Dante de Oliveira, 65 contrários, 3 abstenções e 113 ausentes. Para sua aprovação, seriam necessários 320 votos, o correspondente a dois terços da Câmara.

"A proposta foi rejeitada pela Câmara, deixando assim de ser admitida pelo Senado, ficando prejudicadas as emendas de número 6, 8, 20, 93, constante dos itens 2 e 3 da pauta. A mesa quer silêncio [muitas vaias da galeria]. Esgotado o tempo regimental para duração. Está encerrada a sessão. Um, dois, três, quatro, cinco mil, queremos eleger o presidente do Brasil", ecoava da galeria.

Bancada de MT se dividiu e apenas 2 se reelegeram

Além de Dante de Oliveira, a bancada federal de Mato Grosso ainda contava com Márcio Lacerda, Milton Figueiredo e Gilson de Barros, todos do MDB, e que votaram favorável pelas Diretas Já. Já pelo PDS, os representantes mato-grossenses eram Bento Porto, Jonas Pinheiro, Ladislau Cristino Cortes e Maçao Tadano.

Destes, Tadano votou contra. Já os outros 3 não compareceram na sessão por seguir a estratégia dos militares, que articularam o esvaziamento da sessão para que não se alcançasse o quórum suficiente para aprovação. O plano funcionou.

Dos que votaram contra ou não compareceram na sessão das Diretas, apenas o deputado federal Jonas Pinheiro conseguiu se reeleger para a Constituinte de 1988 pelo PFL. Os demais saíram derrotados.

Dante de Oliveira se tornou prefeito de Cuiabá em 1985, depois ministro da Reforma e do Desenvolvimento Agrário no governo de José Sarney. Voltou a ser eleito prefeito em 1992 e depois governador em 1994, sendo reeleito em 1998. Dante morreu precocemente aos 54 anos de idade vítima de uma pneumonia em 2006.

Márcio Lacerda se tornou senador da República e depois vice-governador de Mato Grosso. É o único vivo da bancada de 1984 e reside em Cáceres.

Já Milton Figueiredo faleceu em 1993, Cristino Cortes em 2001, Gilson de Barros em 2008 e Bento Porto em 2010.

Jonas Pinheiro se tornou senador da República por 2 mandatos consecutivos em 1995 e 2008. Morreu em fevereiro de 2008.

Madrugada em delegacias para soltar manifestantes

Márcio Lacerda, em conversa com a Gazeta, lembrou da votação das Diretas Já! Segundo ele, após a derrota, os defensores da proposta não tiveram tempo para chorar.

"Nós ficamos chateados. Mas não teve tempo, porque Brasília estava tomada de gente que estava protestando após a votação. E a repressão do governo era forte. Então passamos a noite correndo na porta das delegacias para tentar retirar pessoas presas", lembra.

Proposta discutida dentro do MR8

O ex-senador Antero Paes de Barros, que era vereador em Cuiabá na época das Diretas Já!, lembra que Dante de Oliveira apresentou a ideia da proposta durante uma reunião do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR8).

Segundo ele, em uma das reuniões, Dante, que pertencia ao movimento, apresentou a ideia de uma campanha para as Diretas Já.

"Eu o e Dante pertencíamos ao MR8. Éramos do MDB, mas nossa militância era dentro do 8. E em uma dessas reuniões, com a participação do presidente nacional do nosso movimento em Cuiabá, Dante apresentou esse tema e começamos a discutir. A ideia foi do Dante e o MR8 abraçou a causa", lembra.

Após várias discussões, Dante passou a levar o tema para a sua campanha de deputado, e, após sua eleição, decidiu apresentar a emenda no primeiro dia de mandato.

"O Doutor Paraná [pai de Dante] é quem redigiu. Isso é verdade. Ele era advogado experiente. Então ajudou", completa.

Fonte: Gazeta Digital 

 

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