Nesta quinta-feira, a jornalista Carolina Chagas, do jornal O Globo publicou uma reportagem destacando as belezas de Chapada dos Guimarães após uma visita no município, mais especificamente o Parque Nacional de Chapada, refletindo sobre o bem estar causado pelo impacto da natureza e a importância da região. Leia na íntegra:
"A menos de 100 quilômetros de Cuiabá está a Chapada dos Guimarães. Semana passada, aproveitei a passagem pela capital do Mato Grosso para conhecer essa cidade. Estudos recentes já divulgados nestas páginas do GLOBO comprovam que o contato com o verde melhora a saúde cerebral. Depois de meia hora em meio às árvores e águas claras, já se nota a diminuição da ansiedade e o aumento da clareza mental. Duas horas depois, nota-se a diminuição da atividade do córtex pré-frontal, que é associado aos pensamentos repetitivos e negativos, e também maior atividade de áreas ligadas à empatia e à memória de curto prazo. Um dia depois do contato com a natureza, percebe-se o aumento da serotonina e da dopamina, daí a sensação de alegria e de prazer que sentimos perto do mar. Dois a três dias depois do contato intenso com o verde, a rede de descanso do cérebro se equilibra, o que melhora a sensação de bem-estar e a qualidade do sono. O contato com a natureza também estimula a criatividade entre outros benefícios.
Nos dias andando perto desse imenso paredão de rocha no Cerrado, ganhei bem mais do que isso.
A Chapada dos Guimarães é composta por imponentes formações de arenito, esculpidas pela ação do vento e da água por milhares de anos, e conta com cânions profundos, grutas e cavernas que descrevem várias fases geológicas do nosso planeta. Há indícios de que parte daquela região já foi mar e morada de dinossauros similares ao Tiranossauro Rex. A essa paisagem rochosa se une a vegetação do Cerrado, o segundo maior bioma da América do Sul (a Floresta Amazônica é o primeiro). A flora local é uma mistura de campos abertos, arbustos retorcidos e matas de galeria, que acompanham os rios e as cachoeiras, formando um ecossistema rico e diverso, lar das araras vermelhas (que são azuis e vermelhas) e outros animais.
Para entrar em várias partes do parque é preciso contratar um guia, que, algumas vezes, é também o motorista de carros 4x4, necessários para o acesso a áreas como a Cidade de Pedra e o Vale do Rio Claro. Fui a esses dois passeios com o Yan Ribeiro (65.99642-0088), que vive lá há mais de três décadas, me ensinou quase tudo que falei acima e tem um dos carros mais equipados e confortáveis para o passeio. Recomendo.
Mas foi o Jorge Uiré (65.99976-3522) que me deu lições que vou carregar comigo. Ele é neto de uma indígena da etnia Xacuru Kariri e, depois de grande, resolveu viver um tempo junto aos povos originários para se conectar com a natureza. Foi batizado por Xavantes, e Uiré, nome que surgiu em um sonho do pajé, quer dizer “águia de duas cabeças”, a do homem branco e a do indígena, que se unem na cabeça dele. Jorge contou que aprendeu com um pajé dos Nambikwara que para viver em estado de paz basta:
— Comer o que você planta. Simples, né? Conhecer os ciclos e os tempos da vida nos traz calma —filosofou.
Enquanto fazíamos as trilhas que iam até as cavernas do parque, ele ia apontando as árvores e contando o uso dado a elas pelos povos originários. Guardei o de três delas para contar aqui: a semente da Sucupira, uma árvore bem alta, tem diversos usos. Elas costumam cair em setembro e são boas para artrite e dor de garganta. Quase todo mundo que mora na Chapada dos Guimarães tem uma no bolso e mastiga quando está com dor de garganta. Os indígenas também costumam ferver 5 sementes para cada dois litros de água e tirar o óleo medicinal de dentro da semente, que até pingam nos olhos para curar problemas de saúde. O Jatobá é um super adstringente, me ensinou o Jorge, e sua semente tem uma farinha muito nutritiva, que pode ser usada no preparo de pães ou misturada ao leite. A Bacaba é uma palmeira da qual as indígenas (sempre mulheres!) recolhem os cocos, fervem e tiram um leite muito saboroso e nutritivo."
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