Após criar as profundezas intangíveis oceânicas e cansado de monotonia plana, carente de elevações, o Pai criador num rasgo poético de grande inspiração levantou suas mãos poderosas para o alto e exclamou: “Faça-se Serra da Chapada!” Esta nasceu com raízes fincadas nas placas tectônicas milenares e o seu ponto culminante num dia de intensa tempestade, ganhou o nome do santo do dia: São Jerônimo.” Este enorme monumento é um invejável ponto de encontro entre a terra e o mundo das nuvens. Por ter uma semelhança incrível com um enorme dirigível, ouso apelida-lo de “Zepelim da Chapada.”
O seu entorno logo atraiu aborígenes de várias nações e povos de todos os continentes: europeu, africanos, asiáticos. E mais recentemente, engarupados nas trilhas cósmicas, chegaram os famosos extraterrenos e duendes. Das cabines desse zepelim os duendes com vozes suaves, parecem que nos aconselham, nos governam, e quando se zangam “rodam a baiana” e só se fazem visíveis com as lentes da imaginação.
O veludo do vento move suas asas duras, instalando na gente a esperança de uma vida futura. Quando chega a neblina os duendes, feitos crianças, saem do zepelim para brincar no terreiro com os velhos mitos das superstições e lendas locais.
Os duendes foram batizados e cresceram com os nomes dos dias da semana. Interessante, o de nome SÁBADO é muito folgado, cochila na rede do espanto e quando está acordado pula corda com o “Pé-de-garrafa”. Ele adora correr em seu veloz cavalo de pau e cutucava com a vara, a “Maria Taquara”.
O DOMINGO é cheio de fé; depois da santa missa toma “cha-co-bolo” e come “Maria Izabé”. Não satisfeito, senta na pedra canga e fuma cachimbo com a alma do “Zé-peteté”.
O duende de SEGUNDA-FEIRA ainda amanhece com o bafo de cerveja gelada do Clube de Esquina. Ainda meio grogue, joga pedra na cachoeira para irritar a “Mãe-d´agua”.
O TERÇA-FEIRA que não se faça de besta! Quando saiu do zepelim sua mãe, do batente da porta, gritou: “Olha aqui, seu moleque, não se esqueça de pedir conselhos para a Mula-sem-cabeça!”.
No Zepelim da Chapada mora também o duende chamado QUARTA-FEIRA que, após o carnaval, é de cinzas e gosta de ouvir gritos dos aflitos, que fizeram asneiras nas folias da vida, no meio da avenida.
O duende QUINTA-FEIRA, na quaresma vira santo, mas durante a vida inteira busca encontrar sentido e nexo na reforma interminável da Salgadeira... Então, para conservar sua mente sã , se deita num sofá velho, que virou seu divã, no Atimã.
O duende SEXTA-FEIRA, que todos chamam de sexta-feira gorda, na semana santa é chamado de sexta maior, mas o resto do ano, com o seu pé de pano, cai na farra. Depois de tudo, lava os pés no córrego das Três Barras. Nos dias santos de guarda, armados de flores, todos os duendes se recolhem no Zepelim da Chapada. Dali do alto, com os olhos de lince, vigiam horizontes, cachoeiras e fontes.
Assim, no Morro de São Jerônimo, “Zepelim da Chapada” os pequenos seres acenam com alegria, seus lencinhos brancos... Venham ver como é lindo este lugar! Eles ficam mais sorridentes... nas noites de luar!
- Texto selecionado do livro “No Zepelim da Chapada”, publicado em 2022, uma produção independente de João Eloy e Nádia Neves. As ilustrações são do estudante Vinícius Neves Ludke, de 11 anos, neto do casal.
João Eloy é chapadense, médico, professor, escritor, compositor, músico, apresentador do Programa Varanda Pantaneira e articulista do Alô Chapada.
O Alô Chapada não se responsabiliza pelas opiniões emitidas neste espaço, que é de livre manifestação
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