Nos últimos cinco anos, os servidores públicos de Mato Grosso vêm amargando um prejuízo silencioso, mas devastador: a falta de pagamento integral da Revisão Geral Anual (RGA). O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) já comprovou: desde 2020, acumulamos perdas próximas a 20% nos salários.Traduzindo isso em números claros: um servidor que recebe R$ 5 mil mensais deveria receber, hoje, algo em torno de R$ 6 mil. São R$ 1 mil a menos todo mês. R$ 12 mil por ano. E, em cinco anos, R$ 60 mil já foram retirados do bolso do trabalhador. Sessenta mil reais que fariam diferença na vida de qualquer família — na alimentação, na saúde, na educação dos filhos, no alívio das dívidas.E enquanto o servidor sacrifica seu orçamento, recorre a empréstimos consignados e se endivida acreditando que os bancos “credenciados” pelo Estado eram a solução, o governo estadual exibe superávits e inaugura obras faraônicas.
O caso do Parque Novo Mato Grosso é o exemplo mais gritante: dinheiro público usado para erguer um monumento ao marketing político, enquanto falta vontade para cumprir a lei e pagar o que é de direito.O mais grave é que a promessa existiu. Em 2018, durante a campanha eleitoral, Mauro Mendes afirmou com todas as letras que honraria o RGA — inclusive o que ficou em aberto do governo anterior. O que vimos, na prática, foi o oposto: manobras jurídicas para impedir que o servidor recebesse seu reajuste. Não apenas não honrou os compromissos, como trabalhou ativamente contra o trabalhador.O argumento da pandemia até poderia justificar uma suspensão momentânea. Mas hoje não há desculpa.
O orçamento é positivo, há dinheiro em caixa e há margem legal dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal para pagar os retroativos. Portanto, o que falta não é recurso: é respeito.E aqui está a reflexão necessária: até quando o servidor vai ficar sentado, de braços cruzados, vendo seu direito ser arrancado mês após mês? Cada silêncio, cada ausência em mobilizações, custa caro: um servidor que ganha R$ 5 mil está deixando de levar R$ 1 mil para casa todo mês. Essa é a conta da omissão.Chegou a hora de transformar indignação em ação. Sindicato e federação sozinhos não vencem essa batalha. É preciso unidade, pressão política, presença nas ruas e nas assembleias. Porque se o servidor não se levantar, o governo continuará apostando na inércia da categoria.O RGA não é favor, é lei. E cada centavo retido pelo Estado é salário roubado do trabalhador.
*Eunice Teodora é profissional de nível superior do sistema penitenciário de Mato Grosso e Presidente do Sindicato dos Profissionais de Nível Superior com Habilitação Específica do Sistema Penitenciário de Mato Grosso (SINPHESP-MT)
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