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Geral Quinta-feira, 31 de Julho de 2025, 14:30 - A | A

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SOLTURA HISTÓRICA

Ibama e Zoounama devolvem 6 peixes-boi-da-amazônia à natureza, no Pará

Evento marcou programa de conservação da espécie ameaçada, com participação de parceiros e moradores da Comunidade Igarapé do Costa, em Santarém

Da assessoria
Da Redação

 Em uma das maiores ações já registradas de reintrodução da espécie no Brasil, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em parceria com o ZooUnama, devolveu à natureza seis peixes-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis), em Santarém, no Pará. A soltura ocorreu em 16 de julho e foi acompanhada pela comunidade e por representantes da prefeitura, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas/PA), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e de outras instituições. Os animais foram resgatados ainda filhotes e passaram por um longo processo de reabilitação para, finalmente, serem reintegrados ao seu habitat com segurança.

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Transporte e manejo dos peixes-boi para local de soltura - Foto: Julliane Pereira/Ibama
A soltura simultânea integra os esforços do Programa de Conservação de Peixes-Boi no Estado do Pará, que pretende resgatar, reabilitar, soltar e monitorar mais de 60 peixes-bois (dulcícolas, marinhos e híbridos), que hoje vivem em cativeiro no estado – número que vem crescendo, especialmente em 2025. O programa envolve ações de educação ambiental, fiscalização e melhoria da infraestrutura disponível para a reabilitação de animais resgatados e se estende da região do Baixo Amazonas até a Foz do Amazonas, com possibilidade de aumento da abrangência.

“Essa é uma gestão inovadora dentro do Ibama no Pará, que busca ampliar a proteção da fauna silvestre ameaçada e engajar diferentes atores em uma rede de cooperação pela Amazônia”, reforça o chefe da Divisão Técnica do Ibama no Pará, Luiz Paulo Albarelli.

O programa prevê o envolvimento das comunidades com campanhas de educação ambiental para sensibilização ao tema, cursos de primeiros atendimentos a peixes-boi encalhados, entre outras ações que aproximem a população das iniciativas para conservação das espécies.

2025-07-30 Comunitários acompanham a soltura dos peixes-boi-da-Amazônia na Igarapé do Costa.jpg
Comunitários acompanham a soltura dos peixes-boi-da-Amazônia na Igarapé do Costa - Foto: Julliane Pereira/Ibama
Nesse sentido, cada um dos seis mamíferos aquáticos reintroduzidos na natureza recebeu, carinhosamente, nomes que remetem às comunidades onde foram resgatados ou às pessoas envolvidas em seus salvamentos. São eles:

Araraú: macho resgatado em 2021, na comunidade Araraú, em Alenquer;
Itarim: resgatado em 2016, no Lago do Itarim, Rio Amazonas, em Santarém;
Pacoval: resgatado em 2014, na Comunidade Pacoval, em Alenquer;
Piracaoera: fêmea resgatada em 2016, na Comunidade Piracoera de Cima, em Santarém;
Ruck: macho resgatado em 2013, na Comunidade Irateua, em Óbidos; e
Tapiri: fêmea resgatada em 2014, na Comunidade Tapará Mirim, em Santarém.
Projeto de Reabilitação e Soltura de Peixes-Boi no Estado do Pará
A reintegração dos seis animais precedeu o lançamento oficial de uma iniciativa correlata: o Projeto de Reabilitação e Soltura de Peixes-Boi no Estado do Pará, em 18 de julho, no Museu Paraense Emilio Goeldi.
Esse projeto surgiu de uma condicionante estabelecida em um processo de licenciamento ambiental conduzido pelo Ibama para uma atividade de pesquisa sísmica marítima realizada pela empresa TGS, na Margem Equatorial brasileira. O objetivo principal é instrumentalizar instituições locais para ampliar a capacidade instalada para proteção e recuperação da população de peixes-boi no estado, diante de um cenário preocupante: muitos dos animais resgatados estão mantidos em condições inadequadas e sem estrutura para soltura.

Pensando nisso, os recursos da condicionante ambiental serão direcionados para:

Estruturação de uma Base de Estabilização de Fauna Aquática (BEFA) em Soure, na Ilha do Marajó, gerida pelo Instituto Bicho D’Água;
Estruturação de um centro de reabilitação de peixes-boi na Universidade Federal do Pará em Castanhal, sob responsabilidade do Instituto Bicho d'Água;
Construção de um recinto de aclimatação pré-soltura em ambiente natural em Soure, com 500 metros quadrados e capacidade para até oito animais simultâneos;
Monitoramento pós-soltura dos peixes-boi por telemetria satelital e rádio telemetria para avaliar a adaptação ao ambiente natural;
Estudos sobre comportamento, áreas prioritárias de uso e hibridização dos Peixes-boi marinho, amazônico e seus híbridos;
Ações de educação ambiental, com foco em escolas da Ilha do Marajó; e
Capacitação de profissionais e comunidades locais, com geração de emprego e renda.
Para a diretora de Licenciamento Ambiental do Ibama, Claudia Barros, “além de garantir que grandes empreendimentos sejam realizados com responsabilidade, o licenciamento ambiental possibilita investimentos em projetos de conservação como esse.”

A iniciativa integra órgãos governamentais, instituições de ensino e pesquisa, e sociedade civil organizada sob a coordenação do Ibama no estado.

Sobre o peixe-boi-da-Amazônia

O Trichechus inunguis é um mamífero aquático herbívoro endêmico da bacia amazônica, sendo o menor dos três tipos de peixe-boi existentes no planeta. Conhecido como "jardineiro" da Amazônia, controla a proliferação de plantas aquáticas e dispersa sementes para matas ciliares (igapós e várzeas), o que contribui para a manutenção e regeneração do ecossistema.

Outra contribuição prestada pela espécie consiste na manutenção da navegabilidade nos braços de rios: por consumir grande quantidade de plantas aquáticas (até 40 quilos por dia), o peixe-boi auxilia na capacidade de navegabilidade em canais mais estreitos, que se separam do principal devido a ilhas, restingas ou outros obstáculos naturais. Sem esse controle realizado naturalmente pela alimentação dos animais, é comum que esses trechos sejam obstruídos pela vegetação.

Características do peixe-boi-amazônico:

Tamanho: pode atingir até 3 metros de comprimento e pesar até 450 kg.
Habitat: exclusivo da bacia amazônica, incluindo rios, lagos e igapós.
Alimentação: herbívoro, alimenta-se principalmente de plantas aquáticas.
Reprodução: período de gestação de 12 meses, com filhotes mamando por cerca de dois anos.
Longevidade: 60 anos.
Estado de conservação: vulnerável à extinção.


Ameaças:

Caça: apesar de ser ilegal, a caça para consumo da carne ainda ocorre, principalmente por populações ribeirinhas.
Degradação do habitat: poluição das águas, destruição de habitats e acidentes com embarcações e redes também ameaçam a espécie.
Mudanças climáticas: secas prolongadas, como as observadas nos últimos anos, podem afetar a disponibilidade de alimentos e a saúde dos peixes-boi.
Espera-se que, com a sensibilização da sociedade e atuação integrada dos órgãos estatais e da sociedade civil, o peixe-boi volte a ter uma população crescente na natureza e a desenvolver seu papel ecológico.

Além da espécie dulcícola, tanto o Programa de Conservação de Peixes-Boi no Estado do Pará, quanto o Projeto de Reabilitação e Soltura de Peixes-Boi no Estado do Pará preveem atendimento aos peixes-bois marinhos (Trichechus manatus) e aos híbridos (resultantes do cruzamento natural entre o Trichechus inunguis e o Trichechus manatus) que porventura ocorram na área de abrangência do programa.

 

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