Por quase três décadas vivendo em Cuiabá, a engenheira civil e empresária Daniela Argenta, nascida em Paranaíba (MS), já estava acostumada com os desafios de ser mulher em um setor dominado por homens. No entanto, foi empurrando sozinha um paneleiro em casa que ela teve uma ideia que mudaria não só a sua trajetória, mas também a de centenas de outras mulheres.
“Foi um misto de euforia, ansiedade e um pouco de medo pelo novo”, relembra Daniela. Naquele momento, ela pensava nas tantas histórias que ouvia de mulheres que precisavam esperar o marido, pagar caro por serviços simples ou lidar com prestadores desonestos. “Acho que o paneleiro foi só a gota d’água. A ideia nasceu quando percebi: nós, mulheres, damos sempre um jeito. Foi aí que a lâmpada acendeu.”
Nascia, ali, a semente do SuperSis, um projeto voltado a ensinar reparos domésticos para mulheres e fortalecer sua autonomia — prática e emocional. Mas até transformar o insight em um curso de verdade, foi preciso coragem e resiliência. Ainda no regime CLT, Daniela começou a pesquisar iniciativas similares. Encontrou apenas em grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro. Até que a vida deu seu empurrão: perdeu o emprego e decidiu mergulhar de cabeça no propósito recém-descoberto.
Fez um curso em São Paulo voltado ao público feminino e ali entendeu o impacto real daquilo tudo. “As mulheres se descobrindo, saindo com aquele sorriso enorme… Eu descobri meu propósito.” Em setembro de 2019, participou do Startup Weekend Women em Cuiabá e garantiu o 3º lugar com uma ideia semelhante. Pouco tempo depois, em janeiro de 2020, nascia oficialmente o SuperSis. O primeiro workshop foi realizado em março daquele ano — no fim de semana anterior ao fechamento do comércio devido à pandemia.
Desde então, Daniela transformou o SuperSis em uma plataforma de transformação. “Logo nos primeiros cursos percebi que aquilo não era só sobre furar paredes. Era sobre fortalecer mulheres. A autoestima delas se transformava.”
E histórias marcantes não faltam. Como a de uma aluna que, traumatizada na adolescência, tinha pavor de furadeiras. “Conversei com carinho, fiquei ao lado dela. Ela começou tremendo, mas foi se soltando. Quando terminou, ergueu os braços e gritou. Foi lindo.” Outra história que emociona Daniela vem de João Pessoa. Uma aluna em depressão profunda encontrou no curso online uma luz. “Ela me disse que o curso fez um verdadeiro milagre na vida dela. Sentiu alegria pela primeira vez em muito tempo.”
Há também as que deram uma guinada profissional. Uma aluna, casada e em busca de independência financeira, começou no SuperSis e hoje sustenta os filhos com serviços de pequenos reparos, após sair de um relacionamento tóxico.
Ensinar, inspirar, transformar
Daniela não esconde a emoção ao ouvir relatos como esses. “Sou manteiga derretida, me emociono sempre. Mas é esse combustível que me mantém firme. Dá trabalho, é pesado, mas cada curso, com cinco ou cinquenta mulheres, vale a pena.”
Segundo ela, o diferencial do SuperSis é a empatia. “Não ensino só ferramentas. Compartilho vivências, dificuldades, histórias. Estamos ali entre iguais, sem julgamentos, num ambiente seguro. Já ouvi de alunas que em cursos com homens se sentiam intimidadas ou desrespeitadas. Aqui, a gente se apoia.”
Foi nesse espírito que surgiu a ideia de promover workshops para mães e filhas. “No nosso primeiro curso tivemos uma dupla assim, e foi muito emocionante. Depois, minha própria filha me pediu para participar. Ver que ela quer aprender isso comigo foi inesquecível. Precisamos mostrar às meninas que elas são capazes de tudo.”
Empreender, mesmo quando é difícil
Mas nem tudo foram flores. Daniela enfrentou desafios de ser mulher em um meio dominado por homens, onde muitas vezes era subestimada, inclusive por outras mulheres. “Na engenharia, para ser respeitada, você precisa ser quase bruta. Isso cansa.” Foi no Empretec, programa do Sebrae, que ela encontrou clareza.
“Foi no momento exato em que larguei a CLT. Ele me ajudou a ver minhas fragilidades e pontos fortes, como pessoa e empreendedora.”
Seu conselho para outras mulheres que pensam em empreender? “Procurem redes de apoio. É difícil, sim, mas vale a pena. Empreender é como ter um filho: você só entende a intensidade depois que vive. Mas também aprende, amadurece e cresce.”
Futuro com mais impacto
O SuperSis segue crescendo. Em 2025, Daniela foi até Taubaté (SP) realizar um curso para funcionárias de uma empresa local. Já cogita levar o projeto para fora do Brasil, talvez para a Europa, com sua cidadania italiana. Mas, por enquanto, o foco está no próximo evento em Cuiabá: o workshop “Se Vira no Reparo”, no dia 17 de maio, em homenagem ao Dia das Mães.
Ela também planeja ampliar o alcance dos projetos sociais, especialmente para mulheres em situação de vulnerabilidade. “O impacto é enorme. Quando elas percebem que conseguem fazer algo que nunca imaginaram, a transformação é profunda.”
O legado? Daniela resume com firmeza e doçura: “Quero que as mulheres saibam que não precisam se limitar. Somos mais capazes do que imaginamos. Com nosso jeitinho, damos conta de tudo.”
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