As últimas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro mergulharam a direita brasileira em uma crise interna sem precedentes. A imposição de uma tornozeleira eletrônica, somada a medidas restritivas que o impedem de participar de eventos políticos, realizar lives nas redes sociais e até manter contato com certos familiares, provocou uma reação em cadeia entre apoiadores e líderes conservadores em todos os estados do país.
O clima entre os bolsonaristas é de indignação e insegurança. Aliados políticos avaliam as decisões do STF como um cerco político que fere liberdades individuais e visa enfraquecer Jair Bolsonaro no cenário eleitoral de 2026. O ex-presidente, que já havia sido declarado inelegível por oito anos, agora enfrenta restrições ainda mais duras que, segundo aliados, representam um “ataque institucional” à direita.
Enquanto isso, no exterior, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, intensifica uma ofensiva política contra o governo brasileiro a partir dos Estados Unidos. Nos últimos dias, ele esteve reunido com lideranças empresariais e políticas americanas, incluindo o presidente Donald Trump, com quem teria discutido a proposta de uma tarifação de até 50% sobre os produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano.
Essa articulação, caso se confirme, poderá representar um duro golpe à economia brasileira, especialmente ao agronegócio — setor tradicionalmente alinhado ao bolsonarismo. Empresários já demonstram preocupação com o impacto da medida, temendo retaliações comerciais e prejuízos bilionários.
A reação no Congresso Nacional foi imediata. Durante entrevista concedida nesta terça-feira (22), após uma reunião no governo do estado, a senadora Margareth Buzetti (PSD), criticou duramente a conduta de Eduardo Bolsonaro e apontou suas ações como responsáveis diretas pelas novas turbulências enfrentadas pelo ex-presidente.
“Tudo isso que está acontecendo com o Bolsonaro é reflexo das atitudes de moleque do Eduardo nos Estados Unidos”, afirmou Margareth. “Ele sabota interlocutores sérios, como a Tereza Cristina, fala mal do Tarcísio, boicota comissões e agora diz que não queria tarifa. Mas está tudo gravado. Ele mesmo falava que queria isso. Não dá mais para tapar o sol com a peneira.”
A senadora ainda rechaçou qualquer possibilidade de mobilizações como paralisações de caminhoneiros, como sugerido pelo deputado Zé Trovão, afirmando que o país já vive um cenário de instabilidade desde os ataques de 8 de janeiro de 2023 e não suporta mais retrocessos.
“Nós temos que parar com isso. O Brasil já está no fundo do poço e continua cavando. Precisamos de um governo mais hábil, mais humilde, e com interlocutores verdadeiros, não com garotos que causam crise internacional”, concluiu.
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A fala de Margareth ganhou repercussão e dividiu opiniões no Senado e na Câmara. Enquanto setores da oposição acusam a senadora de trair a direita, outros parlamentares admitem, nos bastidores, que a condução de Eduardo Bolsonaro nos EUA é “imatura” e tem gerado desgaste político e diplomático.
Lideranças do PL, por sua vez, tentam minimizar os danos e articulam a permanência do mandato de Eduardo mesmo estando fora do país. A legenda deve concentrar sua agenda nos próximos meses na pauta da anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos, incluindo o próprio Jair Bolsonaro.
Contudo, especialistas ouvidos pela reportagem apontam que o cenário é de crescente isolamento da direita radical. Com Bolsonaro enfraquecido, Eduardo sob críticas e o partido mergulhado em disputas internas, a direita enfrenta seu momento mais difícil desde a derrota eleitoral de 2022. Resta saber se, diante do cenário atual, surgirá uma nova liderança capaz de reorganizar o campo conservador ou se o bolsonarismo, tal como se conhece hoje, caminha para um ponto de esgotamento.
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