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Opinião Quarta-feira, 18 de Junho de 2025, 12:31 - A | A

Quarta-feira, 18 de Junho de 2025, 12h:31 - A | A

LAURINHA LUCENA

Portão do Inferno ou Portão do Enrosco?

Laurinha Lucena

 

Chapada dos Guimarães vive crise econômica com obras emperradas na MT-251 e turismo em queda livre.
A paisagem ainda é deslumbrante. O céu continua largo, o cerrado resiste com sua vegetação de fogo e flor, e o mirante do Portão do Inferno segue sendo uma das curvas mais famosas do Brasil — pelo risco e pela beleza. Mas, nos bastidores desse cartão-postal, Chapada dos Guimarães vive dias difíceis. E a culpa, meus amigos, tem nome, sobrenome e altitude: as obras no Portão do Inferno.

Desde que a MT-251, principal via de acesso à cidade, foi parcialmente interditada e envolvida num verdadeiro cipoal de projetos, laudos técnicos e promessas que se dissolvem mais rápido que a neblina da serra, o que se vê é um êxodo turístico. Os turistas sumiram, os guias se veem guiando o tédio e os hotéis, que antes recebiam viajantes com vista para o pôr do sol, agora recebem apenas o silêncio... e boletos.

Inferno econômico

Chapada é uma cidade que respira turismo. Cada pastel vendido, cada trilha guiada, cada peça de artesanato esculpida carrega o vento do mirante e o som das cachoeiras. Mas quando a estrada para o paraíso está bloqueada, não há turismo que resista.

“Desde a reforma da Praça Dom Wunibaldo e da tal ‘rua coberta’, a economia deu uma encolhida. Agora com esse impasse do Portão do Inferno, a coisa azedou de vez. Aqui a gente não tem indústria, não tem comércio forte... só o turismo mesmo. E agora nem isso”, desabafa um comerciante, enquanto limpa uma cadeira vazia na porta de sua lanchonete.

Derruba ou preserva?

A maior parte da população, com razão ou desespero, quer saber por que o governo simplesmente não derruba logo o morro. “Não aguentamos mais”, dizem. “Derruba isso e faz logo uma estrada segura!”

Por outro lado, uma minoria — geralmente formada por geólogos, engenheiros, antropólogos e gente que lê mais laudos do que boletins de WhatsApp — alerta: o tal “morro” guarda um sítio arqueológico valioso, parte do Parque Nacional da Chapada, patrimônio natural e científico que poderia desaparecer com um trator mais apressado.

E o ICMBio? Bem, o ICMBio já autorizou as obras há tempos. O governo diz que vai fazer, mas ninguém sabe exatamente quando, como ou com qual projeto. E nesse empurra-empurra técnico-burocrático-geológico, o tempo vai passando e quem vai ficando para trás é o pequeno empreendedor, aquele que vendia caldo de cana na feirinha ou hospedava casais de lua de mel.

A tragédia cênica de Chapada

A verdade é que estamos vivendo uma espécie de tragédia cênica, daquelas que mereciam virar filme de cinema novo, com final aberto e roteiro embolado. Uma cidade linda, com potencial turístico absurdo, onde a natureza grita e a história pulsa nas rochas, mas onde as decisões são tomadas com passos de tartaruga manca.

Enquanto isso, o povo de Chapada assiste a tudo de camarote — mas sem pipoca, sem turista e com a geladeira vazia.

Saída pela direita?

É preciso decidir: há caminhos técnicos viáveis que preservam o patrimônio arqueológico, desviam a estrada de forma segura e custam menos que dinamitar a história. Mas para isso, é preciso parar de empurrar a culpa e começar a empurrar as soluções. Porque o inferno, neste caso, não é o morro — é o abandono.
Se a estrada está em obra, o turismo também. E se o turismo para, Chapada sente — no bolso, no prato e no coração.

*Laurinha Lucena é jornalista desde 1978 e guia regional de turismo em Chapada dos Guimarães, MT, onde mora desde 2011.

 

O Alô Chapada não se responsabiliza pelas opiniões emitidas neste espaço, que é de livre manifestação

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