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Chapada Quinta-feira, 19 de Junho de 2025, 18:48 - A | A

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19 DE JUNHO

Cinema de raízes profundas: Chapada dos Guimarães celebra o audiovisual fora do eixo

No Dia do Cinema Brasileiro, artistas de Mato Grosso revelam a potência criativa que brota do cerrado, reafirmando o papel da região no mapa cinematográfico nacional.

Helena Werneck
Da Redação

Nesta quinta-feira, 19 de junho, celebra-se o Dia do Cinema Brasileiro. A data marca um momento pioneiro na história audiovisual do país: o dia em que, em 1898, as primeiras imagens cinematográficas foram captadas em solo brasileiro. A bordo do navio Brésil, que havia zarpado de Bordeaux, na França, o italiano Afonso Segreto, recém-formado na operação do cinematógrafo, registrou a paisagem da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro — nascia, então, a semente do cinema no Brasil.

Mais de um século depois, esse solo fértil continua germinando histórias — inclusive longe dos grandes centros. Em Mato Grosso, a cidade de Chapada dos Guimarães é um exemplo notável. Rica em natureza, cultura e inspiração, ela se destaca como polo cinematográfico no estado. Segundo dados de classificação da Agência Nacional do Cinema (Ancine), apenas duas empresas em Mato Grosso alcançaram o nível 2 de excelência. Ambas estão em Chapada: a Cérberos Filmes e a Cia D’Artes do Brasil.

Fundada em 1994 por Amauri Tangará e Tati Mendes, a Cia D’Artes do Brasil iniciou sua trajetória nos palcos teatrais. Em 1997, migrou para o cinema com “POBRE É QUEM NÃO TEM JIPE”, o primeiro filme da produtora gravado em película 35mm, ainda nos ventos da retomada do cinema nacional. Desde então, o casal de artistas construiu um vasto repertório cinematográfico, percorrendo não apenas o Brasil, mas também Portugal, a República Tcheca e até o Timor-Leste.

Acervo pessoal

 

“Eu comecei a fazer cinema na verdade e cinema mesmo em 1997, mas antes disso eu já tinha feito muita coisa em publicidade, em televisão, trabalhei muitos anos nisso e claro, o teatro que eu faço desde desde doze anos de idade. Então em 97, fiz meu primeiro filme ‘pobre que não tem jipe’, filme que ganhou muitos prêmios, andou por aí. Depois de lá pra cá foram dezenas, né? Filmados aqui no Brasil, fora do Brasil. Já filmamos em Portugal, na República Tcheca e até no Timor Leste, e São Paulo e Rondônia, aqui no Brasil.”, relembra Amauri, que é roteirista, dramaturgo, cineasta, diretor teatral, preparador de atores, provocador cultural e ator.

Amauri reconhece o papel fundamental de Tati Mendes na realização dos projetos: “Eu falo que ela carrega o piano nas costas, e eu toco”, brinca. Além de produtora e gestora cultural, Tati também assumiu a direção de filmes nos últimos anos.

“Eu acho que a única forma de fazer as coisas é fazendo as coisas. É fazendo né? Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, diz Amauri, em eco ao legado de Glauber Rocha.

“Eu não vim aqui ensinar nada pra você, eu vim aqui dar um chute na bunda de vocês pra vocês fazerem, porque hoje em dia com as tecnologias que estão aí é bem mais simples de fazer um filme, utilizando uma câmera ou telefone celular, sair filmando, é uma experimentação”, afirma o cineasta, que já tem nove roteiros de longas prontos para serem filmados.

Apesar da trajetória consolidada, Amauri denuncia o preconceito ainda presente contra produções fora do eixo Rio-São Paulo.
“É complicado fazer cinema fora do eixo porque você é sempre tratado como periférico. [...] Eu não faço cinema regional, eu faço cinema brasileiro em Mato Grosso [...] eu quero ser tratado como brasileiro, essas é uma das minhas brigas. A gente é Brasil.”

A outra potência chapadense, a produtora Cérberos Filmes, também segue em ebulição. Atualmente, está produzindo a série animada “FloriFluto”, que contará com a participação de Ailton Krenak. Paralelamente, seus curtas seguem em circulação e prêmios: como “O Último Varredor” e o curta de animação “O Outro Lugar”.

Acervo pessoal

 

Perseu Azul, cineasta e sócio da Cérberos, revela que há muitos projetos em desenvolvimento — alguns ainda na fase de roteiro. Entre eles, co-produções com o renomado estúdio de animação Birdo, um longa musical financiado pela Lei Paulo Gustavo, e uma parceria com a produtora nordestina Tem Dendê, cujo roteiro “Império de Sorvete” já foi semifinalista no festival internacional Guiões.

“Ou seja temos produções acontecendo por todo Brasil, Nordeste, Goiás, Paraná, São Paulo e Bahia.”

Além disso, Perseu assina roteiros de duas séries para produtoras goianas — “Na Missão”, infantojuvenil da “É Nóis Que Tá”, e “Micronauta”, da Macaco Ábil, além do longa “Mãe Bonifácia”, gravado em Sorriso, com atuação de Zezé Motta. Também está envolvido em uma co-produção com a Globo Filmes e Cumbaru Filmes, ao lado de Danielle Bertollini.

Danielle, diretora, roteirista e curadora, reforça a importância de se filmar fora dos grandes centros.
“A importância de fazer cinema fora do eixo eu acho que a gente fala da importância o que que significa o cinema, que seria esse documento audiovisual do nosso tempo [...] a gente também tem a identidade do Brasil vista nas telas e eu acho que isso é muito importante.”

Criadora do Festival de Cinema Feminino “Tudo Sobre Mulheres” e presidente da MTCine, Danielle destaca que o audiovisual mato-grossense é mais do que cenário: é narrador.
“A gente está aqui pra muito além [...] claro, a gente reconhece as nossas belezas, mas a gente também está produzindo a partir daqui.”

Seus trabalhos — como “Plantadores de Água” e a série “Segredos do Coração da América do Sul” — já circularam o mundo, revelando a diversidade cultural e natural de Mato Grosso. No momento, Danielle está na fase de montagem do longa “Somos Tereza”, sobre Tereza de Benguela, ícone da resistência quilombola.

Acervo pessoal

 

Ela conclui com uma crítica certeira ao tratamento desigual entre os setores econômicos:
“A gente quer levar Mato Grosso pro mundo através do audiovisual [...] tanto o agro quanto o audiovisual carecem de investimentos públicos [...] o cinema tem que ser visto também como um setor estratégico. Não é gasto, é investimento.”

No dia do Cinema Brasileiro, vozes como as de Danielle, Amauri, Tati e Perseu reafirmam: o cinema pulsa em cada canto do país. E, no coração do cerrado, ele pulsa forte.

 

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