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Variedades Segunda-feira, 19 de Agosto de 2024, 12:55 - A | A

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PLANO REAL

Estabilização da economia transformou o Brasil em ambiente seguro para investir

Mudança estrutural reduziu a volatilidade e, mesmo com grandes desafios pela frente, o país se mostra dinâmico em um cenário de mudanças rumo ao universo digital, avalia Henrique Meirelles

Do Exame

O grande legado do Plano Real, que completa 30 anos em 2024, foi a estabilização da economia, depois do mais longo período de hiperinflação registrado na história da humanidade.

A mudança estrutural a partir da implementação de uma moeda estável e forte transformou o ambiente econômico brasileiro. Contribuiu não só para o crescimento da economia mas também para um amadurecimento que trouxe resiliência ao país para enfrentar crises que afetaram os mercados internacionais.

“Foram 15 anos de inflação acima de 100% ao ano antes do real. Chegamos em alguns momentos a mais de 2.000% anuais”, pontua Henrique Meirelles, integrante do Comitê Estratégico do Banco Master.

Respeitado no rol de administradores financeiros globais, Meirelles participa de conselhos de outras instituições financeiras e, no governo federal, chefiou o Banco Central do Brasil durante os dois primeiros governos de Luiz Inácio Lula da Silva (de 2003 a 2010). Ocupava o posto quando a crise do subprime, iniciada nos Estados Unidos em 2007, secou o crédito internacional a partir da quebradeira de bancos estrangeiros.

“Configurou-se naquele momento uma crise gravíssima em um curto período. Mas os bancos brasileiros continuaram operando porque estavam sólidos. E nós tínhamos reservas. Esse foi um ponto fundamental”, lembra. As reservas cambiais que contribuíram foram construídas na esteira da evolução do cenário econômico brasileiro, a partir de base fundamentada pelo Plano Real.

Crescimento pujante

Meirelles recorda ainda que com uma moeda estável o país cresceu, em média, 4% ao ano, período em que foram criados mais de 10 milhões de empregos e quando 40 milhões de pessoas saíram da pobreza. A inflação ficou estabilizada entre 1994 e 1999, quando então a alta demanda por dólar afetou o cenário econômico e novas medidas foram necessárias para acertar o passo no ambiente brasileiro.

Foi quando, no início dos anos 2000, o país viveu um novo capítulo, quando foram desenhados o regime de metas de inflação e câmbio flutuante. A meta de resultado fiscal primário foi, ademais, naquele momento, um fator fundamental para buscar a saúde das contas públicas, fator com forte efeito na economia. Tanto que o controle das despesas públicas e a busca pelo superávit primário seguem na ordem do dia dos governos da vez.

Ainda com a questão fiscal de curto e médio prazo em pauta, continua Meirelles, um grande desafio estrutural é a reforma da produtividade. Hoje perto dos 25% da americana, já representou 50% no início da década de 1970 se considerada a mesma comparação. Quando estava à frente do Ministério da Fazenda durante o governo de Michel Temer (de 2016 a 2018), o então ministro Meirelles encomendou um estudo sobre o tema ao Banco Mundial. Foram elencadas 16 medidas.

Grandes desafios

Uma das prioridades apontadas foi a reforma tributária, debate que entrou em curso no atual governo Lula – e aprovada pelo Congresso Nacional no ano passado. Mais uma diretriz indicada pelo Banco Mundial foi a reformulação do ambiente de negócios, com o fim de derrubar o excesso de burocracia. Levam-se dias para abrir uma empresa no Brasil, mas essa mudança também caminha, diz Meirelles. Em São Paulo, por exemplo, o prazo é de um dia, não mais de dois meses, cita.

Há, ainda, a necessária reforma da educação. É que o número de estudantes tem aumentado, mas o nível de aprendizado não, se observados critérios internacionais, diz o conselheiro do Banco Master. “Grande parte do sistema ainda está mais preocupada com ideologia do que com nível real de aprendizado”, opina. E a educação técnica também precisa expandir para ampliar a produtividade dos profissionais que já integram o mercado de trabalho.

A lista é desafiadora, mas a economia brasileira avançou significativamente nessas três décadas. O ambiente para investimentos tornou-se menos volátil se comparado aos anos 1970 e 1980, e o sistema financeiro está absorvendo bem as mudanças de modelo rumo ao mundo digital. As regras de mercado permitiram avanços como o uso do Pix pela população, um tipo de meio de pagamento que não se vê em mercados como o americano, exemplifica.

“Nos Estados Unidos ainda se usa cheque, com dois dias para compensar. O brasileiro gosta de novidade, o que é bom no atual momento de transformação”. Só em 2023, o mercado financeiro do país ganhou pelo menos 73 milhões de novos usuários que começaram a utilizar o Pix como moeda. Para Meirelles, mesmo com as dificuldades que se apresentam, o Brasil tem sido um país dinâmico frente a um cenário de grandes transformações.

 

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