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Opinião Terça-feira, 17 de Outubro de 2023, 11:17 - A | A

Terça-feira, 17 de Outubro de 2023, 11h:17 - A | A

João Eloy

A onça pintada

No convento

João Eloy

Houve uma época em que muitas pessoas da alta sociedade cuiabana, quando se apresentavam “fraca dos pulmões”, como se dizia na época referindo-se a portadores de tuberculose pulmonar e bronquite crônica, mudavam-se para cidades com climas mais amenos, como o da serra acima.

Acreditava-se que assim obteriam cura para seus males.

Um caso mais conhecido em Chapada foi o de três irmãs que para lá se transferiram, com o citado objetivo. Elas eram muito ricas e, como a maioria das residências naquele tempo era feita de sapé e pau a pique, adquiriram um terreno próximo à Igreja de Sant’Ana, onde fizeram construir um grande casarão com amplas dependências para a criadagem. Ali residiram por muitos anos, até recuperarem a saúde e regressarem para Cuiabá.

O casarão veio posteriormente a ser adquirido pelas freiras franciscanas que o adaptaram para funcionar como convento e internato para moças. As freiras, de origem alemã, logo se habituaram ao modo simples de vida da região.
No porão do casarão estocavam alimentos em enormes tambores: carne frita, banha de porco, toucinho defumado, rapadura, farinha, etc.

Contam os antigos moradores que, em um inverno chapadense bastante rigoroso, uma onça pintada ali se abrigou, em busca de alimento. E quando uma das moradoras desceu no depósito subterrâneo procurando mantimentos para a próxima refeição, foi surpreendida pelo esturro violento da fera, que avançou sobre ela, rasgando-lhe os trajes. Por muita sorte a religiosa escapou ilesa, pois seus gritos também assustaram a onça.

Foi um grande escândalo no convento, então todo o povoado logo ficou sabendo do acontecido: havia uma feroz onça pintada no porão do convento das freiras.

Os homens formaram um pequeno exército armado, dispostos a tudo para protegerem as apavoradas freiras. Fizeram um círculo em frente à entrada do porão, com seus cães farejadores que latiam sem cessar.
Nesse ínterim, as mulheres e as crianças foram proibidas de saírem de casa, até que pudessem dar fim ao terrível animal. Afinal, todos corriam grande perigo se o majestoso animal escapasse vivo.

Cada caçador estava munido de várias armas: espingardas de dois canos, revólveres calibre 38 e 22, punhais e facões. Atiçando os cães, logo conseguiram descobrir o canto onde estava atocaiada a fera. Esta, esturrava tão alto, que fazia tremer janelas, portas e telhas do antigo casarão.

Naquela luta titânica com a onça, de vez em quando um cachorro vinha de lá de dentro desesperado, ferido pelos dentes e patas da onça, ganindo sem parar.

O embate durou muito tempo até que o felino, já cansado e machucado pelas mordidas dos cães em várias partes de seu corpo, foi abatido pelos corajosos e improvisados caçadores.

Após alguns minutos de silêncio, conseguiram disparar suas armas, alvejando o animal e trazendo-o para o lado de fora.
Para ter certeza de que ela estava realmente morta, um deles cravou seu punhal no coração da onça, de onde jorrou abundantemente um sangue morno, freneticamente consumido pelos cães, que deglutiam os grandes coágulos, sem mastigar.

O passo seguinte foi retirar toda a pele da fera, que foi esticada com taquaras, para posterior curtimento e transformação em tapete, exposto na sala de visitas do convento.

E quando as freiras recebiam visitas, relatavam essa história hilariante e inesquecível, assunto de longo tempo em todas as rodas de conversas.

 

O Alô Chapada não se responsabiliza pelas opiniões emitidas neste espaço, que é de livre manifestação

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