Peritos internacionais entregaram nesta quarta-feira à magistrada Paola Plaza um relatório com informações cruciais sobre a morte do poeta chileno Pablo Neruda e que, segundo sua família disse com exclusividade à EFE, comprovaria que ele foi “envenenado” após o golpe militar de 1973.
A entrega do relatório, realizado por especialistas de Canadá, Dinamarca e Chile, foi feita pela coordenadora do painel de peritos, Gloria Ramírez, em meio à grande expectativa. A previsão de entrega do relatório completo, incluindo anexos, bibliografias e outros documentos, é 7 de março.
O sobrinho do vencedor do Nobel de Literatura de 1971, Rodolfo Reyes, que teve acesso aos documentos como autor do caso, antecipou à EFE que a perícia concluiu que o clostridium botulinum encontrado nos restos mortais do escritor “estava em seu corpo no momento da morte” e que o cadáver não foi contaminado depois que foi enterrado.
“Agora sabemos que o clostridium botulinum não deveria estar na ossada de Neruda. O que isso significa? Que Neruda foi assassinado, houve intervenção em 1973 por agentes do Estado”, disse Reyes.
Neruda morreu na noite de 23 de setembro de 1973 na Clínica Santa María, no centro de Santiago, 12 dias depois do golpe que derrubou seu amigo e presidente, Salvador Allende, e um dia antes de se exilar no México, onde poderia ter se tornado o grande opositor do ditador Augusto Pinochet (1973-1990).
A bactéria foi encontrada em 2017 em um dente de Neruda por outro painel de especialistas, que descartou a versão da ditadura e rejeitou que a causa da morte fosse “caquexia” (fraqueza extrema), causada por um câncer de próstata avançado que o acometia desde 1969.
O clostridium botulinum, responsável pelo botulismo, é um bacilo que geralmente é encontrado no solo e pode causar problemas no sistema nervoso e até a morte. Agora resta saber como e quem introduziu a toxina botulínica no corpo do autor de “Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada”.
Grande parte da família de Neruda apoia a versão de Manuel Araya, seu ex-motorista e uma das últimas pessoas a vê-lo com vida. Segundo Araya, cujo depoimento serviu de base à denúncia feita pelo Partido Comunista e deu origem à investigação em 2011, o poeta foi envenenado por uma injeção no abdômen aplicada por um agente secreto do regime que se fez passar por um médico da Clínica Santa María.
As conclusões deste novo laudo pericial deveriam ser conhecidas no dia 3 de fevereiro, mas a audiência foi cancelada devido a problemas de conexão de um dos peritos.
A audiência foi remarcada para o dia 6 de fevereiro, mas também suspensa por supostas divergências entre os especialistas.
“Estamos satisfeitos e tristes, porque agora sabemos que o mataram. Antes presumimos coisas, mas esta investigação revelou a verdade: Neruda foi assassinado”, declarou Reyes na segunda-feira.
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