O empoderamento feminino foi o tema de um encontro realizado na sexta-feira (24) pelo Rotary Club de Chapada dos Guimarães em parceria com o projeto Assembleia Social, da Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Mulheres residentes no grande São Sebastião tiveram a oportunidade de compartilhar suas histórias e vivenciar dinâmicas que mostram a importância dos pilares do autocuidado feminino.
A psicóloga clínica Marjorie Vieira abriu o evento falando sobre o tema. “A maioria dos pacientes que buscam atendimento são mulheres, então isso diz algo sobre a saúde dessas mulheres. Então hoje falamos um pouco sobre a história, como surgiu o dia 08 de março, a importância desta data, não só acerca das homenagens, mas também para a gente pensar o que essas mulheres querem, quais são as condições sob as quais elas vivem, quais oportunidades a sociedade oferece para que elas se profissionalizem e criem seus filhos, qual é a rede de apoio que elas tem na cidade onde moram, então tratamos de diversos assuntos que buscam elucidar como essas mulheres podem transformar o mundo ao seu redor, de forma a ter uma vida mais digna”.
Segundo Marjorie, é importante que essas mulheres, que vivem em situação de vulnerabilidade social, conheçam a história de mulheres que abriram o caminho para que as gerações posteriores tivessem acesso à direitos como o voto. “A partir do conhecimento da história podemos traçar um caminho para lutar por aquilo que queremos para o nosso presente, de forma a criar um futuro melhor, então para mim esse encontro é uma forma das mulheres se ajudarem, dividindo experiências, contando suas histórias, falando sobre suas experiências, e isso é uma de autocuidado, porque o autocuidado não fala sobre si, ele é uma ferramenta de ajuda coletiva”.
A psicóloga falou ainda sobre a importância da luta das mulheres negras para garantir acesso a diretos básicos. “Apesar de todos os desafios, mulheres negras ao longo da história lutaram para garantir seus direitos e plena participação política. O feminismo negro surgiu por volta de 1960 e 1980, especialmente pelo marco da criação da National Black Feminist Organization, nos Estados Unidos”.
No Brasil, o movimento ganhou força no final dos anos 1970, a partir de uma forte demanda das mulheres negras, que não se viam representadas pelos movimentos sociais hegemônicos. Enquanto as mulheres brancas buscavam igualdade de direitos com homens brancos, mulheres negras lutavam para sair da posição de subordinadas, pois sofriam opressão tanto de homens como de mulheres brancas.
Até hoje as relações sociais são permeadas pelos reflexos do período escravocrata. Mulheres negras amargam a falta de oportunidades, a violência e racismo enquanto lutam para transformar suas histórias. E garantir maior participação das mulheres negras na política, além de ser um processo de reparação histórica é também uma forma de promover a democracia e a pluralidade de vozes nos espaços de tomada de decisões.
Vale lembrar que garantir a participação plena e efetiva de mulheres negras na política e promover a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis estão entre as metas globais do Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5 – Igualdade de Gênero.
O presidente do Rotary Club Chapada, Kaique Fonseca, falou sobre o projeto. “A programação começou com ações pontuais na zona rural de Chapada e foi encerrada com essa ação na comunidade do bairro São Sebastião; durante o mês de março contamos com o apoio do projeto Assembleia Social para levar palestras e oficinas a mulheres das comunidades Água Fria e Rio da Casca”.
Segundo Kaique, estas comunidades foram escolhidas devido aos dados que apontam problemas relacionados a violência doméstica. “Nestas regiões existem mais relatos e denúncias de violência familiar, então entendemos ser importante levar informação para as mulheres destas comunidades, mostrar que existe uma rede de acolhimento e que elas não estão sozinhas; que elas podem contar com instituições que às ajudarão a se tornar cidadãs mais independentes, a progredir na vida”.
O ciclo de eventos realizados pelo Rotary será encerrado com um jantar no dia 30 de março. “Na oportunidade vamos divulgar o balanço do trabalho realizado durante o Mês da Mulher, além de reforçar a mensagem de valorização da mulher”. O valor angariado com a venda de massas será revertido para que novas ações possam ser realizadas.
Empoderamento feminino
A história da luta das mulheres pelos seus direitos começou a séculos e se estende até hoje. Desde as bruxas perseguidas na idade média, até as sufragistas que foram às ruas para conquistar o direito ao voto, é impossível separar os períodos importantes da humanidade das conquistas feministas que acompanharam o passar dos anos.
O combate à estrutura patriarcal é mais discutido hoje em dia. E esta questão, por si só, já é um problema, não pela discussão – que além de necessária é um direito das mulheres – mas sim pela demora que ocorreu até que mulheres tivessem liberdade para falar abertamente sobre suas vontades, necessidades e escolhas.
Uma das ações em nível mundial para auxiliar as cidadãs a garantir acesso a direitos universais foi a criação dos ‘Sete Princípios de Empoderamento das Mulheres’, iniciativa ligada à ONU Mulheres e ao Pacto Global. A adesão vai ao encontro do compromisso do escritório com a valorização da diversidade, atuando no reconhecimento e desenvolvimento de nossas profissionais em prol da equidade de gêneros.
A ONU Mulheres foi criada, em 2010, para unir, fortalecer e ampliar os esforços mundiais em defesa dos direitos humanos das mulheres. Segue o legado de duas décadas do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM) em defesa desses direitos, especialmente pelo apoio a articulações e movimentos de mulheres e feministas, entre elas mulheres negras, indígenas, jovens, trabalhadoras domésticas e trabalhadoras rurais. São seis áreas prioritárias de atuação: liderança e participação política das mulheres; empoderamento econômico; fim da violência contra mulheres e meninas; paz e segurança e emergências humanitárias; governança e planejamento; normas globais e regionais.
Ciente do papel das empresas para o crescimento das economias e para o desenvolvimento humano, a ONU Mulheres e o Pacto Global criaram os Princípios de Empoderamento das Mulheres. Os Princípios são um conjunto de considerações que ajudam a comunidade empresarial a incorporar em seus negócios valores e práticas que visem à equidade de gênero e ao empoderamento de mulheres.
Conheça os sete Princípios de Empoderamento das Mulheres
Estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, no mais alto nível.
Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não discriminação.
Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa.
Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres.
Apoiar empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres através das cadeias de suprimentos e marketing.
Promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social.
Medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero.
Os direitos das mulheres na redemocratização
Os movimentos feministas foram importantes na redemocratização do Brasil. A partir de meados dos anos 1970, os direitos das mulheres passaram a integrar a agenda da oposição ao regime autoritário. Também nessa época começaram a surgir coletivos de mulheres negras. Em 1985, já sob a democracia, foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), com a participação de representantes da sociedade civil. No mesmo ano, enviou ao Congresso a proposta de convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Com a perspectiva de influenciar o texto da nova Constituição, o Conselho lançou uma campanha com o slogan “Constituinte pra valer tem que ter palavra de mulher”.
O chamado “Lobby do Batom” não emplacou todas as suas reivindicações, mas a Constituição de 1988 foi um divisor de águas na luta das mulheres no Brasil. Nela, a igualdade legal entre homens e mulheres faz parte do capítulo dos direitos e garantias fundamentais dos indivíduos.
Os debates sobre igualdade de gênero
Com a nova Constituição, o Brasil entrou em sincronia com mudanças que ocorriam no mundo, na esteira dos movimentos feministas. As discussões internacionais sobre o tema se iniciaram em 1979 com a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, também conhecida como Carta Internacional dos Direitos das Mulheres, e desembocaram na Conferência de Pequim, em 1995, onde se afirmou que o lugar da mulher na sociedade não é biologicamente determinado, mas social e culturalmente construído, e se reconheceu que o feminismo é plural, uma vez que as mulheres experimentam vivências e opressões diferentes, sobretudo pelo cruzamento de gênero, raça e classe.
A influência crescente dos feminismos na agenda global produziu uma reação conservadora, a partir da segunda metade dos anos 1990, em defesa da família e dos valores tradicionais. Igrejas evangélicas nos Estados Unidos e o Vaticano, sob o pontificado de João Paulo II, deslancharam uma contra ofensiva tendo como alvo principal a chamada “ideologia de gênero”. No primeiro momento, a reação conservadora teve pouco eco no Brasil.
As conquistas dos feminismos no Brasil e os desafios recentes
No final dos anos 90 e início dos anos 2000, diversas legislações foram aprovadas em favor da maior proteção dos direitos das mulheres, com destaque para o Código Civil (2002), que pôs um ponto final na existência jurídica do “chefe de família”, com direitos e obrigações iguais entre homens e mulheres no exercício da “sociedade conjugal”.
No governo Lula, os direitos das mulheres ganharam maior visibilidade política e importância institucional com a criação, com status de Ministério, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, em 2003. Em 2010, o Brasil elegeu a primeira mulher presidente, Dilma Rousseff.
O endurecimento das leis para punir a violência contra as mulheres avançou com a aprovação da Lei Maria da Penha, em 2006, e da Lei do Feminicídio, em 2015. Simultaneamente, multiplicaram-se as delegacias especializadas em casos de violência contra a mulher.
Os avanços não tocaram da mesma forma as diferentes mulheres. Negras, indígenas, trabalhadoras das áreas rurais e outros grupos reivindicam por maior atuação do Estado na resolução de problemas que lhes atingem de maneira específica.
O golpe que tirou Dilma da presidência apontou uma reação conservadora aos direitos das mulheres, tendo como alvo principal os direitos sexuais e reprodutivos. Nos últimos 20 anos cresceu a quantidade de projetos de lei contrários ao aborto. Foram 12 apenas em 2019. Em todo o mundo, e no Brasil também, os feminismos e a chamada “ideologia de gênero” se tornaram temas centrais da polarização política.
Mulheres importantes
Nísia Floresta
Uma das precursoras do feminismo no Brasil. Foi escritora, intelectual e mais: uma revolucionária que lutou, por meio da Literatura e da Educação, pela emancipação e independência das mulheres.
Maria Quitéria de Jesus
Conhecida como Maria Quitéria de Medeiros, foi uma heroína que lutou contra tropas portuguesas pela Independência do Brasil. Nascida na Bahia, Maria Quitéria serviu de inspiração para que outras mulheres se juntassem às tropas, formando um grupo comandado por ela. Hoje ela é reconhecida pela sua coragem e seu protagonismo na Guerra da Independência.
Maria Felipa de Oliveira
Mulher negra, pescadora, capoeirista e marisqueira. Nascida em Itaparica (BA), ficou conhecida por liderar um grupo de 200 pessoas – entre elas, povos indígenas – na luta pela libertação portuguesa. Em 2018, foi declarada heroína da Pátria Brasileira
Mulheres mato-grossenses
Uma mulher que marcou a história de Mato Grosso foi Zulmira Canavarros que, juntamente com Dunga Rodrigues, começou a desenvolver o Rasqueado no piano solo. Zulmira ainda foi a fundadora do primeiro clube feminino (1928), depois o Mixto Esporte Clube e a rádio A Voz do Oeste. Além destas duas mulheres temos ainda Lígia Borges Muller Figueiredo, primeiro prefeita eleita no Brasil em 1946, no município de Rosário Oeste e Ana Maria do Couto May, primeira presidente da Câmara Municipal de Cuiabá, no ano de 1965.
Tereza de Benguela é outra grande personalidade do estado. Ela foi rainha do quilombo do Quariterê. Se tornou líder do quilombo após a morte de seu companheiro José Piolho, morto por soldados. Resistindo à escravidão por duas décadas, ela nasceu na África e foi trazida como escrava para Mato Grosso, no século XVIII e viveu no Vale do Guaporé. O quilombo de Quariterê foi destaque por sua organização e autossuficiência e por ter sido comandado durante 27 anos por uma mulher. Morreu em 1770, após ser capturada por soldados.
*Com informações Oxam, Fundação FHC, ONU Mulheres e Nossa Causa.
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